Por uma Juspoesofia – Maria das Neves Franca

POR UMA JUSPOESOFIA

“Braço da Justiça” , de Chidi Okoye

Acrílico sobre tela.

Rainer Maria Rilke, o grande poeta tcheco de língua alemã, no terceiro dos seus sonetos a Orfeu, escritos no retiro de Muzot, pondera que “pensar é calar-se para a realidade, muito fácil. Mas nós, quando é que nos calamos?” A pergunta do poeta nos abarca e nos concerne. Se pensar é calar-se para a realidade, há espaço para o pensamento numa sociedade marcada pela hiperprodução de sons os mais diversos? Como escutar o silêncio? De que precisamos para isso? O que é calar-se para a realidade? E quanto ao Direito, pode o Direito calar-se?

O cotidiano agita-se entre a tagarelice fácil, os bips, clicks, tecs, avisos e comandos sonoros, buzinaços e panelaços que ocupam nossa atenção, anestesiando a nossa sensibilidade e impedindo a acolhida do silêncio essencial, mediante o qual a realidade lampeja, trazendo-nos a urgência de seus reclamos . Indiferentes à voz grave do silêncio, vivemos a ilusão de que a carga avassaladora de informação sonora dá-nos a compreensão do mundo.

Como então escutar o silêncio? Do que precisamos para isso ? Primeiro, estar em disponibilidade afetiva para ouvir. Depois, exercitar-se na escuta, o que se consegue como aprendizado existencial, que se realiza num incansável percurso, tecido de dor e prazer. A seguir, tarefa mais difícil, distinguir, dentre a mutiplicidade de silêncios, aqueles que abrigam um manancial possíveis, silêncios de anúncio e prenúncio de emancipação.

Calar-se para a realidade é rejeitar a tagarelice fácil, a erudição vazia, mas é também recusar a indiferença e a omissão; é assumir uma postura corajosa que acompanhe a dinâmica da vida em seu movimento de silêncios e dizeres, movimento em que a verdade se desvela como aquilo que se dissimula no que é. Calar-se para a realidade é mergulhar no silêncio para inaugurar instâncias de conversação, que possibilitem respostas para as premências do tempo.

Pode o direito calar-se? Não calando, não há como escutar a realidade. Falando, ele pode se perder na tagarelice vazia. Qual, então, o lugar do jurista hoje? Penso que a convocação que vem dos versos de Mario Quintana responde a essa questão: “Olha estas estátuas mutiladas! São tanto mais belas quanto mais lhes falta. Isto é, quanto mais devem a tua imaginação…” O lugar do jurista hoje não é outro senão um lugar poético, lugar do sem lugar, lugar de descoberta do lugar do Direito entre silêncio e palavra.

Escrito por: Maria das Neves Pessoa de Aquino Franca

Fuente: http://fumusbonijuris.net/index.php/8-noticias/8-por-uma-juspoesofia

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E também, como olhar para o que nós vemos?. Olhar para a sombra. Ouvir no silêncio. Uma sombra como imagem do propio preto gêmeo… Quia aliquando silentio facta narrantur… Bravisssimo!

J.C.G.

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